Capacidade de compra vs. valor de mercado: entenda a crise da habitação em Portugal
Quando se fala na crise da habitação em Portugal, é comum misturar tudo: preços altos, juros, rendimentos baixos, falta de casas. Mas a verdade é que estamos perante dois problemas diferentes e, enquanto não os separarmos, não vamos encontrar soluções eficazes.
Neste artigo e no nosso novo vídeo no YouTube, explicamos de forma simples a diferença entre capacidade de compra e valor de mercado, e por que ambos são fundamentais para compreender (e resolver) o problema.
Capacidade de compra: o problema dos rendimentos
A capacidade de compra diz respeito ao rendimento mensal das famílias e àquilo que conseguem pagar por uma casa, sem comprometer o orçamento familiar.
Por exemplo:
Um casal com dois filhos, onde cada um ganha mil euros, tem um rendimento total de dois mil euros por mês.
Com uma taxa de esforço de 30% a 35%, e descontos aplicados por dependentes ou outros créditos, é muito difícil obter financiamento para comprar casa – especialmente nas grandes cidades.
Mesmo imóveis abaixo dos 250 mil euros são raros. E, com preços a rondar os 300 a 400 mil euros, as prestações tornam-se incomportáveis para muitas famílias portuguesas.
Em resumo: este é um problema de acesso ao crédito, rendimentos baixos e fragilidade económica.

Valor de mercado: o impacto da falta de oferta
Por outro lado, o valor de mercado está relacionado com os preços praticados no setor imobiliário, e esses continuam a subir. Mas porquê?
Vejamos os números:
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Em 2008/2009, construíam-se cerca de 200 mil casas por ano em Portugal.
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Hoje? Ficamos pelas 25 mil, se tanto.
Com menos casas disponíveis e mais pessoas à procura, os preços sobem. É uma questão de procura e oferta.
E mesmo que se comece a construir mais agora, o efeito demora. Este é um problema que só se resolve a médio-longo prazo.
Como resolver a crise da habitação?
Para enfrentar esta crise de forma séria, temos de atacar em duas frentes:
1. Melhorar a capacidade de compra
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Reforçar a economia e aumentar os salários.
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Apostar numa habitação social justa e bem gerida.
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Garantir rotatividade: quem já não precisa de apoio deve libertar a casa.
2. Corrigir o desequilíbrio do mercado
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Construir mais habitação para a classe média, não apenas de luxo.
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Formar e atrair jovens para o setor da construção.
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Reduzir a carga fiscal sobre imóveis novos.
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Simplificar e acelerar os processos nas câmaras municipais.
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Industrializar a construção: mais casas, em menos tempo, com menos custo.
Conclusão
A crise da habitação não é um problema único: são dois problemas distintos:
As pessoas não conseguem comprar casa porque os rendimentos são baixos. Os preços estão altos porque faltam casas no mercado.
Enquanto tratarmos isto como um único problema, vamos continuar a falhar nas soluções.
Na GO NOW, acreditamos que compreender o mercado é o primeiro passo para fazer escolhas conscientes.
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Até breve e, como sempre, bem haja!
Obrigado,
Hugo Silva
